segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

PIU-UÍ



PIU-UÍ

 Eu sou o Piu-Uí e estou cansado do que faço. Viajar limitado a trilhos, já não me agrada mais. Um dia, me enfezei, larguei os vagões e sai dos trilhos. Não quis saber. No início doeu, mas fui me acostumando.
Viajei para vários lugares: deserto, caatinga, só não consegui entrar na floresta por que era muito densa.
Por todo o povoado que passava, levantava a curiosidade.
- Olha! Um trem! - dizia um.
- Já colocaram linha férrea aqui, tão rápido! - dizia outro.
Eu me divertia, com a curiosidade e com as caras espantadas das pessoas.
Até que um dia passando por um bosque ouvi o choro de alguém. Estiquei minhas janelas-orelhas para ouvir melhor. Constatei - era realmente um choro. Fui pé-por-pé, digo, roda-por-roda até o snif, snif e encontrei um menino encolhido chorando embaixo de uma árvore. Curioso perguntei:
- O que foi amiguinho? Por que está chorando?
- Snif! Snif! Eu fugi de casa e me arrependi. Só que agora não sei mais voltar. Buaaaá!
- Não precisa se preocupar, eu te ajudo. Conheço vários lugares. É só me descrever o seu lar que eu acho num instante.
Só neste minuto o menino, enxugando as lágrimas, resolveu levantar os olhos. Levou um susto quando viu um trem azul falante.
- Quem é você? – perguntou apressado o menino e já se levantando rápido.
- Eu sou o Piu-Uí – Ahnnn! O trenzinho aventureiro. Adoro viajar!
- E você? Como é seu nome?
- Eu me chamo João, mas pode me chamar de Joãozinho. É assim que todos me chamam. Buaaaaá!
- Não chore amiguinho. Já disse que vou te ajudar. Mas me conte porque fugiu de casa.
- Eu queria ser um aventureiro também, só que acho que fui longe demais e não consegui mais encontrar o caminho de volta. A floresta parecia tão encantadora. Fui entrando, entrando e acho que sai do outro lado. Agora estou aqui.
- Se os seus olhos não estivessem tão cheios de lágrimas veria que tem umas casas lá adiante e poderia pedir ajuda. Não se preocupe. Suba capitão! Digo Maquinista – peraí você não é maquinista. Eu sou um trem. Então, deixa pra lá. Sobe ai chefe!
O menino adorou o tom de brincadeira e subiu em mim.
Tomamos informações no caminho e finalmente encontramos a casa do menino.
Para minha surpresa o pai de Joãozinho era o maquinista que trabalhava comigo. Só então percebi a saudade que estava dele e das linhas de trem.
Abraçamo-nos longamente. O maquinista – Seu Pedro - não cabia em si de tanta felicidade, de ter recuperado dois seres tão preciosos em sua vida – seu filho e eu, seu companheiro de trabalho.
Seu Pedro tratou de tranqüilizar-me, dizendo que novas linhas estavam sendo construídas e novos lugares estariam à disposição para eu viajar. Se ainda estivesse disposto de trabalharmos juntos novamente.
Soltei um longo Piu-Uíiiiiiiiiii de felicidade. Dizendo que a aventura foi boa, mas ela é melhor quando se tem companhia.

Andrea dos Santos Leandro – 05 Out 04

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Olha a sincronicidade interessante! Escrevi esse texto na aula de contos infantis e estava no início da gravidez do meu primeiro filho que é apaixonado por trens, principalmente pelo Thomas que é um trem azul.

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